terça-feira, 16 de junho de 2009

O sabor e o saber

A sugestão de escrever um texto de Memórias a respeito das lembranças sobre um professor que tenha sido marcante em sua vida foi feita após assistirmos e discutirmos, na quinta oficina, o filme O sabor e o saber. Este foi um dos textos produzidos pelos professores-cursistas:

Foi a melhor época de minha vida, pena que naquele tempo, eu não pensava assim..
Lembro-me bem, no pátio de brita, chão batido e de grama, que insistia em se espalhar por entre as pedras, a areia e os pés das crianças.O melhor lugar para se estar, era ali, na escola, onde brincava com as amigas, pois os meninos só podiam brincar de carrinho, bola(futebol), peca, peteca, e com meninos. E as meninas de amarelinha, e de ciranda de roda...que fila enorme se formava para ver quem chegaria ao final! Que lembranças boas do vento que vento que batia no rosto como se fosse uma carícia, acho que não era tão frio. Na hora do lanche, sentava com as amigas sobre o muro, que parecia feito de colunas, formando uma muralha de um castelo, enquanto lanchávamos. Minha mão sempre me mandava um "frichtik" de pão caseiro com carne - carne que sempre insistia em cair do pão_, junto com a sopa gaúcha que a Dona Elvira preparava (de cor amarelo pardo, com carne seca e macarrão). Claro que a Silvia e a Claudeci sempre tinham outra coisa como maçãs, gelatina ou iogurte (que vontade!)
De cima do muro, durante o lanche, enquanto comia a merenda e o meu pão, observava a casa da diretora, antiga, com varanda, um puxado de madeira, onde ficava a lavanderia e o banheiro, porque a diretoa não tinha "patente" como os alunos,(ela era importante!). A casa ficava entre o bicicletário e a horta, rodeada de árvores grandes, que serivas para brincar de pega-pega - era nosso "fraiz" - no pátio da escola que na época se chamava Escola Reunida Professor João Romário Moreira. Tudo era maravilhoso!
Porém, além do prazer de gritar, brincar, ouvir o barulho das aves e de vez enquanto um carro passando - sim, pois o povo do dinheiro tinha tobata, gibata, enquanto que outras famílias de posses possuíam uma "cotcha" com cavalos ou bicicletas. Ahh, bicicleta era um artigo de luxo, que vinha do Papai Noel...- gostava de todas as disciplinas, e estudava muito, mesmo sabendo que todos tinham que passar (existia uma lei que proibia a reprovação - bons tempos!), mas adorava mesmo a aula de Ciências, com a professora Andréia, mulher bonita, inteligente, exigente, carinhosa e dedicada. As aulas dela eram diferentes, pois fazia com que colocássemos no lugar dos seres que estávamos estudando, mostrou-me a importância de tudo aquilo na vida real, isso tornava o conteúdo fácil de aprender (mesmo tendo que responder e decorar quarenta questões para uma prova de dez). As aulas de Ciências eram práticas. Um dia, ela trouxe algumas pedras, e eu pude pegar e sentir o peso, a concistência e a forma de cada uma. Encantada, não foi difícil memorizar seus nomes científicos (mica, quartzo e feldspato), lembro que foi numa dessas aulas que aprendi que o nome do calçamento de pedras, que ficava entre minha casa e a escola, se chamava "paralelepípedo" ( parece fácil, mas foi bem difícil de decorar).
Quando chegava em casa, contava para meus pais o que tinha aprendido, claro que eles nem estavam aí para aquelas pedrase provavelmente conheciam por outro nome, menos os científico, mas para mim, aquela era uma maneira gostosa de conhecer o mundo.
A professora nunca chegava triste na sala, sempro nos animava com algumas histórias que ela tinha vivenciado. Esta professora foi referência em minha vida profissional, pois com oito anos eu já sabia que queria ser professora, afinal ser professora era uma coisa importante, impunha respeito. Não tinha professora burra, todas sabiam de tudo, moravam no centro, andavam chiques, maquiadas e gostavam muito de crianças.
Sinto que todos os meus professores, sem exceção, gostavam dos que faziam, posso
dizer que eram profissionais felizes com o trabalho que exerciam.
Sempre procurei seguir com muito empenho o exemplo deixado por meus professores. Amo minha profissão, adoro aquilo que faço. Esta herança recebida, vale muito mais que algumas barras de ouro.


Autora: Zuleica Zils Garcia
Jaraguá do Sul